quinta-feira, 11 de outubro de 2018


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 O QUE É PSICOLOGIA POSITIVA?
Durante muito anos, a Psicologia focou em seus estudos e atuação nas enfermidades, sintomas e adoecimentos psíquicos dos seres humanos, ou seja, a Psicologia aplicada, os clínicos, assim como os psicólogos educacionais no século XX viam apenas diante de si, os defeitos, problemas e patologias.
Felizmente, com o avanço do século XXI, começamos a nos fazer outras perguntas: “O que há de certo ou louvável com as pessoas?”  Podemos dizer que esta pergunta se encontra no cerne da iniciativa emergente da Psicologia Positiva, que é o enfoque científico e aplicado da descoberta das qualidades das pessoas e da promoção de seu funcionamento positivo. O pioneiro da Psicologia Positiva, Martin E. P. Seligman, apresenta suas visões sobre a necessidade de emergência deste campo.
Não mais olhar apenas para nossas fraquezas e danos, mas sim preocuparmo-nos com os estímulos aos “superdotados”, à potencialização das qualidades humanas, o cultivo e desenvolvimento de tudo àquilo que possuímos de melhor, isto nos ocupa em nossos atendimentos clínicos!!
Buscamos acolher sensivelmente, receber com cuidado e zelo à todos aqueles que se interessam em desenvolver suas qualidades, como a resiliência e a saúde nos jovens, a promoção sistemática da competência dos indivíduos, sejam eles crianças ou adultos em desenvolvimento.
Percebemos que as qualidades e habilidades humanas são os mais prováveis para-choques contra a doença mental e o sofrimento humano. A coragem, o otimismo, a habilidade interpessoal, a ética no trabalho, a esperança, a honestidade e a perseverança.
Todas as pessoas, até mesmo as crianças, são consideradas atualmente tomadoras de decisões, com opções, preferências e possibilidades de se tornarem habilidosas, eficazes, ou em circunstâncias negativas, desamparadas e desesperançosas. Esta nova ciência e prática serão capazes de prevenir muitos dos principais transtornos emocionais.
Constatam-se ainda os efeitos do comportamento e do bem- estar mental sobre o corpo, o que tornam as pessoas mais saudáveis fisicamente e psiquicamente.
Enfim, a prática da Psicologia Positiva se direciona para a identificação e compreensão das qualidades e virtudes humanas, bem como o auxílio no sentido da conquista pelas pessoas de uma vida mais plena, feliz e produtiva.

Renata Craviée (Psicóloga Clínica)- Edifício Job Buritis (Sala 407)
Contato: (31 99765-7735)/www.renatacraviee.psc.br/atendimento@renatacraviee.psc.br

terça-feira, 27 de junho de 2017

Da relação sexual que não existe à construção do amor

DA RELAÇÃO SEXUAL QUE NÃO EXISTE À CONSTRUÇÃO DO AMOR
Renata Craviée F. Mendonça

Questão à qual gostaria de me dedicar nesta escrita refere-se ao campo da relação amorosa, isto é, relação que estabelecemos com o outro, na tentativa de fazer alguma suplência possível da ausência da relação sexual, que podemos traduzir como a falta da complementariedade desejada entre os parceiros sexuais. Se nas histórias de amor retratadas nos livros, filmes, teatro entre outros há alguma tentativa de expressar tais ideais aponto, por outro lado, a realidade clínica à qual venho escutando o desencontro inevitavelmente presente na relação entre os seres falantes.
É neste contexto da escuta clínica que tentarei trazer alguns recortes de um dado caso clínico visando favorecer alguma compreensão acerca do campo do amor e do gozo. Segundo Henrique Lorrand é por uma via mortífera que o sujeito se insere no laço social, sendo assim, não se pode desconsiderar que o amor, enquanto laço social possível incluirá também a necessidade de se pensar na via de gozo que enlaça dois sujeitos.
Para a compreensão de tais questões retomo a teoria das parcerias, ou melhor, a concepção de “parceiro-sintoma”, tratada por Miller a partir do ensino lacaniano. No entanto, antes mesmo de nos voltarmos para o “parceiro-sintoma”, propriamente dito, interessante pensarmos na outras parcerias trabalhadas pelos referidos autores.
A primeira parceria, a imaginária aponta a primazia da imagem do outro enquanto elemento formador do Eu. Esta ocorre devido ao total desamparo e dependência do bebê em sua relação com o outro, posição comumente ocupada pela mãe ou quem realiza a função do cuidado. Deste modo, já desde o início podemos pensar sobre a importância do outro para a constituição do eu, o que nos revela a importância das identificações, que se apresentam no contexto analítico.
Neste sentido, o modo de enlaçamento de dois sujeitos pela via amorosa não deixa de apresentar os elementos resquícios das primeiras relações de amor destes mesmos sujeitos, deste modo, segue o seguinte fragmento clínico:

“Paciente Ana, 24 anos diz achar que possui problema para relacionar. Conta sobre dois relacionamentos e diz que escuta destes que é “travada.” Questiono como seria isso, ela diz que os caras queixam de que ela não é carinhosa, tem dificuldade em ser carinhosa, atenciosa. Diz que quando escuta destes que é travada, fica mais travada ainda e daí fica com preguiça.” Relata que o relacionamento anterior não deu certo pelos mesmos motivos. Relata sobre uma dificuldade com a mãe, diz não se dar bem com ela, diz que ela não gosta do jeito que a mãe fala com ela e nem a mãe gosta do jeito dela de falar, diz que acha que a mãe não gosta dela, ou melhor, sabe que gosta mas..... diz achar que também não está mais em idade de ficar cobrando a atenção da mãe... relata que a mãe se dá melhor com sua irmã e que sente isso. Diz que acha que a mãe só foi lhe conhecer melhor depois dos seus sete anos, porque antes disso ela ficava com o seu pai, porque ela trabalhava o dia todo, quase não encontrava com sua mãe”.

Este caso clínico demonstra os efeitos da vida amorosa inicial, ou seja, deste sujeito com seu objeto de amor materno trazendo incidências para a vida amorosa posterior e a possibilidade da análise enquanto meio de questionamento da realidade vivida em seus impasses e desencontros.
“O amor não vai sem o dizer” (LACAN, 1974), tal formulação nos direciona para a segunda parceria, que é a parceria simbólica realizada através do uso do significante como via de suplência da dimensão da falta. O sujeito aqui se dirige a um outro na tentativa de reconhecimento. Algo que aparece na realidade clínica pela importância do sujeito possuir esse lugar, o lugar do reconhecimento, no campo do outro.
A terceira parceria refere-se a parceria do desejo, que pode ser representada pela fórmula da fantasia (S     a). O outro aqui é o lugar, no qual, o sujeito busca objetos para o seu complemento. O Sujeito não estabelece uma relação direta com o outro a não ser por meio dos objetos.
A quarta parceria, refere-se a parceria sintomática, à qual havíamos já mencionado. Trata-se do endereçamento do sujeito a um outro desigual, ser sexuado, do outro sexo na busca de um complemento. Esta via se dá pelos objetos pulsionais, primitivos localizados na relação entre dois sujeitos. Acompanhando esta direção do ensino lacaniano torna-se claro que a dimensão do sujeito enquanto “falta-a-ser” não é mais possível de ser concebida. Deste modo, passamos a conceber a dimensão do “falasser”, isto é, do sujeito mais o seu ser, sua fala, seu corpo, sua vida e deste modo percebemos a dimensão do gozo implicada em sua teoria. Isto quer dizer que por trás do Ser há um gozo do corpo, do vivendi, da vida. Seguindo a orientação psicanalítica torna-se claro a complexidade que envolve a investigação analítica para o entendimentos das questões amorosas.
Lacan em seu Seminário “A Angústia” (1962-1963), enuncia que a constituição do sujeito se faz em sua relação com o desejo do Outro e que o desejo humano é função do desejo do Outro. O autor demonstra que a angústia está ligada a eu não saber que objeto “a” sou para o desejo do Outro.  As funções oral, anal, função da voz e do olhar desempenham um papel privilegiado na constituição subjetiva daquilo que qualificamos como desejo oral, anal, escópico e auditivo (voz), podendo todos estes elementos ocupar o lugar de objeto “a”. Sobre isso, interessante a seguinte citação:

“(...) trata-se de objeto escolhido por sua qualidade de ser especialmente cedível, por ser originalmente um objeto solto, e se trata de um sujeito a ser constituído em sua função de ser representado por “a”, função esta que continuará essencial até o fim”. (LACAN, 1963, p. 357)

Em  relação  a  parceria  do  desejo,  representada  pela  fórmula da fantasia:
(S    a)  que refere-se a possibilidade do sujeito inscrever-se enquanto um sujeito desejante, quando possuiu um outro do desejo na relação com ele, trata-se da posição que o sujeito sustenta em relação ao semelhante. Sobre a questão da posição ocupada na relação com o outro, interessante o seguinte recorte do mesmo caso clínico, citado anteriormente:

Ana relata que em sua família o contato físico, o diálogo, a expressão do gostar não ocorrem, que sua mãe é igual a sua avó....Sobre o relacionamento atual, ela relata: As vezes, ele me irrita, daí eu me pego desimpolgando, desinvestindo, diz ficar com medo de retornar como era nos outros relacionamentos. Relata que no relacionamento anterior foi até o limite do que ele aguentava, que viveu um namorico, diz perceber que chega até um limite e que daí “trava”. Relata que em dois anos deviam ter transado umas duas vezes, relata saber que é para ser bom para os dois, mas que percebe que é como se o homem fosse somente exercer sua força, seu poder sobre ela e que daí não aproveita, só espera acabar....” Relata saber que sua dificuldade tem a ver com o fato de não ter recebido afeto, carinho de sua mãe, mas diz querer resolver o seu problema. Sobre o relacionamento atual relata ter dito ao companheiro querer apenas mais um tempinho para ser mais firme no relacionamento.”

Pensar a clínica, a posição ocupada pelo sujeito na relação com o outro, que pode ser capturada a partir do discurso sustentado por este, nos pede a interrogação acerca do consentimento que o sujeito faz ou não da dimensão da falta, isto quer dizer que há uma implicação, uma participação do sujeito em seu contexto edípico.  O consentimento do sujeito à dimensão da falta e a busca do campo do Outro através da tentativa de se fazer laço pede alguma renúncia, algo é perdido nessa tentativa de encontro com o campo do outro. Há, portanto, um preço a ser pago pela dimensão do desejo no campo da neurose.
No entanto, importante lembrar que o diagnóstico estrutural, deve ser buscado conforme o modo como o sujeito lida com a falta inscrita na subjetividade, falta que condiciona a forma de cada um se haver com o sexo, o desejo, a lei, a angústia e a morte. É na construção do caso clínico, a partir de um saber sobre a subjetividade particular de cada paciente que a psicanálise permite elaborar, que um diagnóstico aparecerá como conclusão do processo de investigação.
A quarta parceria, elucidada por Miller, o “parceiro-sintoma”, também pode ser chamada de parceiro libidinal ou parceiro de gozo e traduz de modo ainda mais interessante o que ocorre nas relações.  Esta parceria inclui, portanto, a dimensão do gozo, do sofrimento, pela via do sintoma mas também a dimensão da fantasia. Tal questão demonstra toda a sua importância a partir do tratamento analítico, uma vez que, é fundamental se trabalhar o sintoma do sujeito, tentando extrair deste a via do desejo, o que se dá pela construção da fantasia. É um convite ao sujeito pela via da fantasia ao abandono do sofrimento em busca do desejo. Isto quer dizer que o tratamento analítico busca resgatar o sujeito desejante, favorecendo as suas escolhas e deste modo abandonando a posição de objeto, que muito comumente sustenta na relação com o outro e com a vida.
Uma via diferente na relação entre dois sujeitos, que não pela via do objeto é a possibilidade da construção do amor. No entanto, o aforisma psicanalítico:“ Não há relação sexual” revela a não proporcionalidade entre o homem e a mulher, sendo possível apenas sabermos sobre o nosso próprio gozo, nada sendo possível saber acerca do gozo do outro, pois este é vivido no real do corpo. Neste sentido, entre um sujeito e o outro estão os objetos pulsionais. Somente a dimensão do amor através da demanda de amor endereçada ao Outro sexo permite a busca do Ser do Outro, prescindindo do objeto. O amor deixa fora o corpo, a dimensão do objeto, via de gozo, mas se aferra às palavras, ao significante.
Interessante que o presente caso clínico, apresentado em alguns recortes, nos oferece uma ilustração acerca da concepção do parceiro-sintoma. Pode-se perceber que o parceiro se funda sobre a relação no nível do gozo, não se  fundando sobre a proporção significante, no nível sexual, mas sim como um meio de gozo. A Paciente Ana ocupa uma posição ativa, de comando na relação, no entanto, relata como insuportável, o lugar de objeto do parceiro ao pensar na possibilidade da relação sexual, que viveu com outro companheiro, de modo traumático.
O parceiro-sintoma retrata o modo de gozo do saber inconsciente, da articulação significante e do investimento libidinal, modo de gozar do corpo do Outro. No entanto, o caso clínico em questão parece revelar o gozo deste sujeito em não gozar da relação. O osso de uma cura analítica é o sintoma, esse ponto endurecido, modo de gozar de cada sujeito e que é preciso aprender “a se fazer com...”
O amor traz uma dimensão inédita para os seres falantes, uma vez que, somente  existe por uma via de construção, de um esforço em dar um nome próprio para o objeto “a”, enquanto causa de desejo e também meio de gozo. Isto fica mais claro quando a mulher se dirige ao parceiro pela demanda de amor, infinita demanda, o que retorna para ela enquanto devastação, outro nome do amor sobre a vertente do feminino.
O caso clínico em questão evidencia o movimento deste sujeito de produção de algum sentido a sua feminilidade apoiada na vertente fálica. No entanto, sempre sobrará um resto, extremamente particular e peculiar ao ser feminino de uma construção que se aproxima do inefável, enigmático, misterioso, relacionados ao gozo da mulher.
No que se refere a relação entre desejo e gozo pela vertente do amor, interessante a seguinte citação: “É pelo desejo e pelo gozo que a existência humana assume o seu caráter de drama. Sem o desejo e sem o gozo, as noções de vida e morte não teriam nenhum sentido”. (VALAS, 2001, P. 08)
Interessante a questão colocada por Drummond (2006, P.11):

“O que os psicanalistas lacanianos tem a dizer sobre as parcerias contemporâneas, sobre as novas formas de enlaçamento familiar e, sobretudo, sobre o desamor, a solidão e as dificuldades cada vez mais frequentes de apostar no amor como laço com o outro?”

Para responder a esta pergunta a autora em “Uma Política do Amor (2006, p.11)” recorre à conferência de Miller no último congresso da AMP, em Comandatuba (Miller, 2005, p.18), na qual, afirmou: “(...) É preciso o amor para fazer o inconsciente existir como saber”. Diz ainda que a questão do amor toma uma nova dimensão no ensino de Lacan, a partir de seu “Seminário XX”, no qual assim aparece: “(...) Como aquilo que poderia fazer mediação entre os um-sozinho”. Para estabelecer uma relação entre os significantes que se encontram disjuntos, dispersos, a psicanálise demanda que se ame o inconsciente, visando fazer existir não a relação sexual, mas a relação simbólica entre os significantes.
Interessante pensarmos que, se por um lado, a escolha ou encontro do objeto amoroso se dá pela via de ser um reencontro, no qual, as primeiras experiências sexuais e o contexto edipiano guardam relevante importância, por outro lado, a aposta que se faz no amor, apesar de todos os seus desencontros, no que diz respeito ao aspecto da fantasia se faz possível graças às trocas simbólicas, inerentes ao registro significante na relação de um casal. O que significa dizer que não há uma aposta na completude ou complementaridade entre os sexos, mas há a possibilidade de mediação entre significantes, regulando o gozo de cada um, permitindo e favorecendo assim a relação amorosa.
Segundo Drummond (2006, p.12) houve em nosso mundo Contemporâneo um intenso desregramento do gozo e neste sentido uma grande desordem no campo amoroso. Diante de um mundo globalizado, utilitarista e universalizante, que apaga os valores de dignidade e honra, introduziu-se uma nova economia libidinal em que a lógica e as condições do amor se alteraram. Segundo a autora cada vez mais, o sujeito encontra soluções que driblam a castração, soluções nas quais a alteridade é reduzida a pequenas diferenças narcísicas, das quais, Freud nos alertou para as conseqüências nefastas, como a intensa auto-referência corporal e a mercantilização das relações.
Interessante a citação da autora:

“Encontramos sujeitos solitários, devotados ao consumo de objetos ou ao culto do individualismo consumista, que trouxe consigo uma multiplicação dos chamados monossintomas: mal-estares do corpo e do humor, violência e transtornos de conduta, que nos falam de um sujeito orientado pelo empuxo ao gozo.” (DRUMMOND, 2006, p. 12)

Diante de tais questões que cotidianamente se apresentam na clínica demonstrando todo o sofrimento que envolve a relação do sujeito com o outro, na tentativa de realização do laço social, pela via do amor importante ressaltarmos o lugar ocupado pelo tratamento psicanalítico na escuta de tais impasses:

“Defendemos que, pela via do encontro com o discurso do analista e do amor de transferência, é possível promover a articulação do campo do sujeito com o campo do Outro, princípio de todo laço social, e permitir que o sujeito construa uma nova saída para lidar com o mal-estar, implicando-se em sua queixa e no sofrimento que relata”. (ESPINOZA, 2009, P. 149)

O sujeito que chega à clínica não ignora o mal-estar do sintoma como resposta desprazerosa, no entanto, nada quer saber sobre a verdade que responde ao sintoma. A aposta da psicanálise é a abertura do sujeito à responsabilização por seu sofrimento, ou seja, que o sujeito possa se questionar sobre a sua participação e implicação na desordem da qual se queixa e assim possa construir novas saídas para o seu mal-estar. A Psicanálise não trabalha a partir da lógica contemporânea de tamponamento ou apaziguamento da dor de existir. Em lugar aos objetos de consumo ou de promessas milagrosas de auto-controle e felicidade, um psicanalista oferece sua escuta. É a partir do acolhimento do sintoma que é possível se operar.
É pela via da formalização dos discursos que Lacan aborda as fontes de mal-estar incontornáveis no caminho do homem à felicidade. Parte do primado do falo, postulado por Freud e chama a atenção para o seu correlato da não-relação entre os sexos.
Neste sentido, o discurso do psicanalista, inaugurado por Freud e formalizado por Lacan (1969-1970) representa uma nova forma de laço social, sendo o avesso do discurso do mestre. A oferta da escuta ocorreu inicialmente pela suposição de que o material da fala contém um saber. Segundo Freud e Lacan, a via para o tratamento analítico é o amor de transferência, pois permite ao sujeito a construção de um novo modo de relação com o seu sofrimento, a partir do amor que se dirige ao saber.
Na tentativa de alguma conclusão possível, interessante a reflexão acerca do amor, levando-se em conta o aspecto de gozo, ou modo de gozo de dois sujeitos que se enlaçam, sobretudo pelo viés do significante, da palavra. A teorização acerca das parcerias, sobretudo a parceria sintomática evidencia que o modo de gozo de cada sujeito encontra no Outro da relação uma via possível de satisfação, ainda que, muitas vezes, uma satisfação mortífera ou devastadora.
A Psicanálise possui, portanto, uma nobre função ao ofertar a escuta e promover algum distanciamento do sujeito em relação ao seu gozo, pela via da palavra, via de acesso ao inconsciente e ao desejo e a toda uma possibilidade de tratamento, isto é, favorecimento de novas saídas do sujeito para o seu mal-estar inevitavelmente presente na relação com o outro e com a vida.
Segundo Espinoza, Lacan enfatiza, ao longo de sua obra, a importância do fenômeno do amor na experiência de análise. Afirma que no tratamento analítico, nós nos ocupamos das coisas do amor e que nesse contexto o amor se faz instrumento de produção de um saber sobre a verdade. E segundo, a autora é por essa ilusão que o sujeito se vincula ao Outro, ao objeto amado.
Lacan em seu Seminário XX (1972-1973) afirma: “Aquele a quem eu suponho um saber, eu o amo”. (P. 91) No entanto, conceitua os sujeitos como dispersos, disjuntos, sem ligação uns com os outros. O que se observa no mundo contemporâneo é que o sujeito não remete uma pergunta ao Outro, cujo enlaçamento encontra-se fragilizado. Assim, o espaço da oferta da escuta permite ao sujeito falar e ao analista o estímulo a algum enlaçamento possível.

BIBLIOGRAFIA:


DRUMMOND, Cristina. Uma Política do Amor. Curinga, Escola Brasileira de Psicanálise. Belo Horizonte, Nº 22, p. 11-15, Junho, 2006.


ESPINOZA & BESSET. Sobre Laços, Amor e Discursos. Psicologia em Revista, Vol. 15, Nº02, 2009, P. 149-165.

FONSECA, Renata Craviée. A Mulher e seu Enigma: O feminino em seus Impasses na Relação Amorosa. 2008. 99P. Monografia (Conclusão de Curso de Especialização)- Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Belo Horizonte.

LACAN, Jacques. O Seminário, Livro 20: Mais, Ainda. Texto estabelecido por Jacques Alain Miller. Trad. M.D. Magno. 2 Ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1985. (1972-1973), 201p.

LACAN, Jacques. O Seminário, Livro 10: A Angústia. Texto estabelecido por Jacques Alain Miller. Trad. M.D. Magno. 2 Ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., (1962-1963), 366P.

MILLER, J. Alain. El Sintagma Partenaire- Sintoma. In: El Partenaire-Sintoma- Los Cursos Psicoanalíticos de Jacques Alain Miller. Buenos Aires: Editora Paidós, 2008, P. 09-30.

MILLER, J. Alain. Revista da Escola Brasileira de Psicanálise- Bahia, Edição Especial: O Osso de uma Análise. Salvador, P.103-131.

Padrão PUC Minas de normalização: normas da ABNT para apresentação de Projetos de pesquisa / Elaboração Helenice Rêgo dos Santos Cunha. Belo Horizonte: Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Ago. 2010. 50P.

QUINET, Antonio. Psicose e Laço Social; Esquizofrenia, Paranóia e Melancolia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006, 236P.

SOLER, Colette. El Amor Sintoma. In: Sintomas. Colombia: Santafé de Bogotá, 1998, P. 29-45.


VALAS, Patrick. As Dimensões do Gozo- Do Mito da Pulsão à deriva do Gozo. Trad. Lucy Magalhães. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2001, P. 08-24.


Neurose ou Psicose- Questão de Escolha?

                                                            Neurose ou Psicose
                                                    Questão de Escolha?[1]
Renata Craviée Fonseca[2]
                            
Resumo:Iniciaremos a descrição e estudo de um dado caso clínico, com o objetivo de promover uma tentativa de compreensão teórica acerca da possibilidade de existência de um comprometimento neurológico, associado a quadro psicopatológico. E além disso, favorecer a análise do discurso do sujeito, modo de resposta profundamente peculiar, encontrado pelo mesmo para lidar com suas questões.

Unitermos: Discurso do brincar, sintoma, inibição, alterações funcionais, transferência, diagnóstico, desejo, angústia, simbolização, romance familiar.


I- História Pessoal

Trata-se de uma criança, a que denominaremos Pedro, oito anos de idade que chega à clínica em 2003, encaminhado pela escola com a seguinte queixa: excessivo grau de ansiedade, rejeição à escrita e ao aprendizado formal, muito embora tenha aprendido a ler sozinho e revele facilidade frente às atividades verbais, algo que gosta de demonstrar. Tal queixa já evidenciando a dificuldade de manejo da criança no ambiente escolar.
Revelando dificuldade em concretizar as atividades iniciadas e desinteresse até mesmo por atividades lúdicas como colorir, pintar, recortar e brincar. Apresentando também dificuldade para alimentar-se (uso de vitaminas) e alergia. Evidenciou dificuldade na adaptação escolar, época em que surgiu alergia e sinusite (tendo sua mãe lhe retirado da escola visando reduzir o conflito).
É importante considerar que o quadro de ansiedade foi percebido precocemente, quando a criança estava com um ou dois anos.
   
 Sobre sua história de vida, sabe-se que sua mãe casou-se grávida dele, tendo a gravidez transcorrido sem intercorrências. A criança foi amamentada por um mês e meio, época em que o leite secou. Fez uso de mamadeira e bico até um ano, tendo largado sozinho. Apresentou dificuldade de adaptar-se ao sal, o que se mantém até hoje. Proveniente de família católica. A criança, sua irmã de quatro anos e seus pais residem com os avós maternos. Extremamente apegado aos avós, dormindo até pouco tempo entre eles. Mãe do paciente não trabalha fora, vive para os filhos, segundo ela mesma. Pai da criança é comerciário, bastante ausente, tendo o avô, de certo modo, assumido a função paterna, sendo importante figura de vinculação para a criança. O avô trabalha com representação de cola e sabe-se que a família não possui facilidade financeira.

II- Avaliação Psicodiagnóstica e Neuropsicológica


Segundo os relatórios, realizados na clínica, a criança revela bom potencial de inteligência (melhor desempenho das funções verbais), porém prejuízo das funções executivas. Dificuldade em sustentar a atenção em apenas um estímulo, o que acarreta no comportamento bastante disperso. Sugere comprometimento da memória recente, sendo mais fácil recuperar dados da memória retrógrada. Avaliado através do Wisc III, a criança evidencia possibilidade de existência de comprometimento nas áreas de associação parieto-têmporo-occipital do hemisfério cerebral direito, já que é capaz de ter o reconhecimento semântico, mas dificuldade relativa à interpretação e processamento sintático. As funções visio-espaciais, visio-construtivas, análise e síntese, raciocínio numérico, escrita e cognição social encontram-se especialmente comprometidas, funções atribuídas às regiões parieto-têmporo-occipital do hemisfério direito e esquerdo.
Prejuízos relativos à atenção seletiva, a flexibilidade cognitiva, controle inibitório, função motora, sequenciamento lógico, organização do pensamento, memória operacional e perseverações sugerem danos nas regiões do córtex pré-frontal e frontal.
Apresenta dominância manual direita e hemisfério dominante esquerdo, aquele relacionado à linguagem. Avaliando de modo global, a criança evidencia alterações funcionais significativas, tanto atribuíveis ao hemisfério direito, quanto ao hemisfério esquerdo. Além disso, pode-se levantar como hipótese a existência de falha na associação entre ambos os hemisférios, algo a nível do corpo caloso. Importante considerar que, após essa avaliação, a criança foi encaminhada à Neurologia, sem sucesso, uma vez que sua mãe não se dispôs a isso. No entanto, para a realização de um diagnóstico funcional preciso seria fundamental que a criança se submetesse a uma ressonância magnética ou Spect Cerebral.

III- Atendimento Terapêutico


 A criança encontra-se em atendimento com a terapeuta desde Set/04 sendo possível perceber agitação, dificuldade de interação com outras crianças, falas repetitivas (fala uma frase e logo mais a repete- verbigeração), ansiedade, movimentos de rotação dos membros superiores e cochichos sussurrados, sem a presença de interlocutor e sem propósito aparente, e que ao serem abordados (questionados) são interrompidos ou negados pelo paciente, retornado este para a brincadeira do grupo, porém de modo superficial.
Revela um discurso com conteúdo de grandeza ("Tenho um milhão de brinquedos, brinco com todos eles" -sic), pouca espontaneidade no brincar, incômodo com ruídos ocorridos fora da sala, que lhe chamam a atenção (Pr. corre sempre para a janela para ver o que está acontecendo). Além disso, mostra-se bastante estabanado ao movimentar-se e ao manusear os objetos. A criança encontra-se também em atendimento de Psicomotricidade, atualmente avaliada para possível transferência para o setor de Terapia Ocupacional.[3]
Em discussão clínica com a equipe responsável pelo atendimento de Pedro, optamos pela realização de avaliação pedagógica no intuito de inseri-lo também no setor, complementando o plano de reabilitação, dado o quadro descrito.
     Inicialmente a criança foi atendida em grupo, período em que, aproximava-se de diferentes crianças, demonstrando interesse em participar de diversas atividades como desenho livre, jogos de conhecimento, brincadeiras como fazenda ou casinha, entre outras. No entanto, revelava já dificuldade em ater-se a qualquer uma das atividades escolhidas por ele mesmo, pulando de um grupo a outro ou buscando a atenção da terapeuta, à qual dirigia perguntas transferenciais ou verbalizava sobre seus "ganhos" ("Tenho três bicicletas, ganhei X jogos"-sic, etc)  ou questionava sobre os ganhos da terapeuta.
     Considerando o quadro clínico atual, tentou-se a mudança da criança para o atendimento individual, no qual permaneceu algumas semanas. Neste evidencia intensa dificuldade em aderir ao setting terapêutico com a questão do tempo, questionando variadas vezes ao longo das sessões as horas e quanto tempo falta para acabar a sessão, além de intensa ansiedade.
Tendo em vista a possibilidade de sério comprometimento neurológico, que podemos levantar como uma justificativa parcial para as suas limitações, torna-se fundamental insistir no contato com os pais da criança, visando conseguir a avaliação neurológica necessária.[4]Para assim, contando com o recurso da plasticidade cerebral possuirmos mais elementos que contribuam para a sua reabilitação.
No entanto, a abordagem psicanalítica nos convida à escuta desse sujeito que, ainda que possua limitações neurológicas, constrói um discurso para lidar com suas questões. Imprescindível é a realização de diagnóstico diferencial para a condução clínica de Pedro. Este deverá ser buscado no registro simbólico, onde   são   articuladas
as questões fundamentais do sujeito (sobre o sexo, a morte, a procriação, a paternidade) quando da travessia do Complexo de Édipo: a inscrição do Nome-do-Pai no Outro da linguagem tem por efeito a produção da significação fálica, permitindo ao sujeito inscrever-se na partilha dos sexos.
Nesse sentido, iniciaremos a análise do discurso de Pedro, visando investigar a forma eleita pelo mesmo para lidar com a castração. Para tanto, fundamental se torna mergulharmos no universo infantil com suas brincadeiras e fantasias.
Paciente demonstra afeição pelo personagem do Batman, a quem se refere como seu personagem preferido, gosta de assistir a filmes e desenhos de super-heróis e geralmente verbaliza sobre a cena que lhe chama atenção, imitando-a corporalmente, mas evidencia dificuldade em relatar os acontecimentos de modo global, a história do filme, fixando-se em um fato ou cena. Interessante seria observar atentamente qual a cena que reproduz , ou seja, em que ponto encontra-se fixado.
Ao brincar, utiliza nomes diferentes e difíceis para seus personagens (sugerindo interferência da linguagem dos adultos ou mesmo da mídia), mas suas brincadeiras são pouco espontâneas e a criança perde o interesse com facilidade. Elemento diagnóstico diferencial importante é sabermos se o paciente inventa nomes (neologismos), o que seria claramente indicativo de psicose, ou se os copia, sendo, a imitação, sugestiva do processo de identificação. Neste caso é importante localizar se trata-se de uma identificação puramente imaginária, i (a),  típica da psicose ou se esta identificação imaginária, i(a), se atrela a identificação simbólica ao Outro, I (A), herdeira do Complexo de Édipo, o que fala a favor da estrutura neurótica. A segunda opção parece estar mais de acordo com o paciente.
No que se refere à função paterna, interessa saber se esta foi transmitida. Sabemos que tal função é transmitida pela palavra da mãe, que é responsável em inserir o pai na relação mãe-filho.  Porém, entre o que a mãe transmite e o que a criança capta pode haver grande distância. No caso de Pedro, o que se observou através dos atendimentos é que este busca na cultura e na mídia elementos da função paterna, com os quais se identificar. Ou seja, podemos pensar que de algum modo esta  função opera a partir da cultura, ainda que a figura do pai tenha falhado. Aqui os personagens como o Batman, o Shrek, o Airton Sena e mesmo seu pai “ausente” ou seu avô dividem tal função. Interessante, no entanto, que elege o personagem Batman, como preferido, sendo que este é imortal, ou seja, podemos pensar que este é o pai que retorna.
Neste sentido, podemos começar a levantar alguns elementos para pensarmos em seu diagnóstico. Na neurose, temos o pai simbólico, ou seja, o pai morto, mas que retorna, enquanto simbólico. Pedro desenha, certa vez, o Batman, e escreve: “Batman-o homem morcego das trevas”, ou seja, o personagem sugere ser o homem, que ao mesmo tempo que é imortal se presentifica nas trevas. E dentre os competidores de Fórmula 1, elege aquele que morreu tragicamente como seu ídolo. Menciona o Airton Sena, relatando: “É o amor da minha vida” (sic). Isso nos permite pensar que a figura do Airton Sena faz também uma suplência à figura do pai, que é vivido como ausente, na medida em que o amor é a ele endereçado, ou seja, ama o pai na figura do Airton Sena.
Paciente cita diferentes linhas de ônibus, bairros, relata querer mudar-se para o bairro da clínica, mas que sua mãe não quer por ser muito perigoso. Presta atenção na favela, próxima da clínica, e verbaliza temer que assassinem seu pai. Evidencia, portanto, noção de perigo, presta “atenção” à favela. O temor do assassinato do pai, pode desvelar um pequeno Édipo, ou seja, o desejo inconsciente de morte desse pai. Pedro nos sugere, portanto, que adora um Mestre, no entanto, para poder morrer.
Em uma determinada sessão, paciente relata ser o aniversário de sua mãe. Com alguma dificuldade, faz um desenho o representando e o colore com pouco cuidado. Não se inclui no aniversário e nem mesmo a irmã. Relata que não poderá participar, porque tem de fazer dever. Inicialmente relata que iria entregá-lo à sua mãe, mas acaba deixando com a terapeuta. Com isso, podemos observar então que a criança revela que não há lugar para ela na vida dessa mãe, uma vez que o aniversário é uma data de vida. Não há lugar para ele em seu desejo. Acaba colocando, através da transferência, a terapeuta no lugar de mãe, entregando para esta seu desenho.
As entrevistas realizadas com sua mãe incomodaram intensamente a criança, que batia na porta, com força, querendo entrar. Em um outro momento, o levantamento da possibilidade, junto à criança, de comunicação da terapeuta com sua mãe provocaram nela grande receio, tendo sido motivo para que se retirasse da sessão, convidando a mãe a ir embora, com grande urgência. Tal situação evidencia o desejo da criança, de entrar aonde a sua mãe está, no entanto, sendo o cerne da questão, causa grande angústia ao ser tocado.
A criança parece profundamente abandonada por seu casal de pais, no entanto, encontra interessante saída, uma vez que busca na cultura às funções, das quais se acha carente. Em seu romance familiar, sua mãe falta e seu pai não parece ter sido suficiente para a transmissão da função paterna. Daí o apego de Pedro ao poder dos super-heróis, ou seja, ao falo. Chega às sessões pedindo à terapeuta que anote o nome dos personagens de filmes de super-heróis tais como “Power Rangers”, “Liga da Justiça- Paraíso Perdido”, “Os Cavaleiros do Zodíaco”, aos quais assistiu e seus poderes. Questionado como era a história dos filmes, paciente encena determinada situação de luta, mas evidencia dificuldade em subjetivá-la, apenas a encena e descreve, restritamente.
Segundo KAPLAN & SADOC (1999), avaliando a criança dentro dos parâmetros da psicopatologia infantil sabe-se que esta se apresenta clinicamente significativa quando há existência de transtorno em uma ou mais das seguintes áreas: comportamento manifesto, estados emocionais, relacionamentos interpessoais e função cognitiva. As anormalidades devem ter duração e gravidade suficiente para causarem prejuízo funcional nas áreas escolar (rendimento e comportamento na escola), relacionamentos interpessoais, uso do tempo livre e desenvolvimento de um senso de self e identidade.
Desse modo, o quadro clínico de Pedro nos sugere a presença de prejuízos na área escolar, o que justificou o encaminhamento do mesmo para realização de avaliação, dado o quadro de intensa ansiedade, agitação, dificuldade de atenção e baixo rendimento, observados no ambiente escolar e busca da família pela escolaridade especial e atendimento clínico especializado, que nos apontam para a existência do incômodo da família com os sintomas da criança.
No que se refere à habilidade da criança em estabelecer laços sociais observa-se dificuldade da mesma em voltar-se aos demais para o compartilhamento de interesses. Mantém-se ainda apegado aos próprios interesses, o que dificulta em alguns momentos a aceitação do enquadre terapêutico, principalmente no que se refere ao tempo.
Parece que a criança também se interroga sobre sua estrutura, uma vez, que o significante “doido”, “doente mental”, surge em seu mundo fantasmático, dado as constantes avaliações e atendimentos em uma clínica de saúde mental, ao qual se acha submetido. Se identifica como louco e ao mesmo tempo se interroga disso: “Eu não sou doente mental!” (sic)
Relevante se torna considerarmos que crianças com transtornos e incapacidades neurológicas encontram-se inseridos no grupo de risco para psicopatologia em geral. Sabe-se também que variados fatores ambientais familiares, tais como estilos de criação, interação familiar, têm sido associados com diferentes tipos de psicopatologia e que, portanto, pedem intervenções terapêuticas específicas, tal como o manejo da família, tentando evitar o reforço ao comportamento da criança.
 Pensando na constelação familiar de Pedro, bem como na sua forma de organização, pode-se levantar a hipótese de que há uma questão com o aspecto da separação, uma vez que permanecem inseridos no contexto da família nuclear materna, o que prejudica na questão da referência familiar. A mãe da criança, por sua vez, se apresenta apenas enquanto mãe, não desenvolvendo outras atividades, ou seja, não faltando à criança. Não faltando à criança, torna-se mais difícil à entrada do pai.
Transtornos emocionais podem ser expressos na forma de relacionamentos ausentes ou desviantes com o grupo de iguais. No presente caso, é possível observar clara dificuldade do paciente em interagir com o seu grupo de iguais. Há constantes tentativas da criança de aproximação, no entanto, o predomínio de fantasias, bem como o descuido com os interesses do outro, prejudicam o compartilhamento de interesses. No entanto, é possível observar que a criança faz laço social, encontra-se inserida na linguagem. Freud (1917), nos afirma:

“Na atividade da fantasia, os seres humanos continuam a gozar da sensação de serem livres da compulsão externa, à qual há muito tempo renunciaram, na realidade. Idearam uma forma de alternar entre permanecer um animal que busca o prazer, e ser, igualmente uma criatura dotada de razão. Na verdade os homens não podem subsistir com a escassa satisfação que podem obter da realidade”.

Em uma dada sessão, paciente nos explicita isso claramente. Solicita o Jogo de Botão e escala os jogadores, localizando o número e o nome dos mesmos, fazendo menção aos anos de 1970 e 1984. (escala corretamente os jogadores dessas épocas) Joga com grande entusiasmo e “atenção[5]”, comemorando, inclusive, seus gols. Interessante que fazia movimentos rotatórios com os membros superiores, parecidos com àqueles até então considerados sem propósito aparente, ou seja, surgem agora com algum significado, no caso, de comemoração. Nesta direção, podemos considerar que há distinção entre a realidade interna e o mundo externo, paciente demonstra capacidade em diferenciar o “Eu” do “outro”, ao escalar os jogadores e os localizar no tempo.
Apesar disso, são evidentes os amplos prejuízos funcionais da criança, no entanto, é fundamental que tentemos lançar um olhar diferenciado para o sintoma, uma vez que sabemos que ele pode representar uma construção simbólica, um modo muito particular de resposta aos ideais das potências tutelares do amor, ou seja, daqueles que produzem a criança, antes mesmo de sua concepção, seus genitores, ou mesmo aqueles, os quais elege. Tais questões nos incitam a pensar nos modos de resposta da criança a essa encruzilhada que lhe é imposta por sua condição- responder ao ideal e manter-se na alienação ou na afânise ou fazer furos neste ideal, mantendo sua condição de sujeito.
Pedro parece evidenciar relação ao desejo do Outro ao solicitar a sua mãe que não conte ao avô que não adaptou-se ao atendimento individual, retornando para o atendimento de grupo.  O que nos sugere que se, por um lado, preocupa-se em atender as demandas do avô, por outro insiste em sustentar sua posição, seu incômodo produzido pelo atendimento individual, que parecia estar se configurando como invasivo, ameaçador. Não ficou clara, no entanto, a questão, uma vez que, adere ao atendimento individual por algum tempo (apesar da ansiedade prevalente) e, posteriormente recusa o corte com os “colegas” (sic).  Isso ocorre quando transferido para atendimento de grupo foi tentada nova mudança para o atendimento individual. Talvez possamos pensar que, a mudança, o novo, o corte, ou seja, a transmissão do corte da castração tenham se evidenciado com a presente situação.
Paciente responde a tentativa de mudança com grande angústia. Vai até a sala abraçado com sua mãe, chorando, relatando querer continuar com seus “melhores amigos” (sic), recusando, inclusive, o atendimento daquela semana. A mãe da criança mostra-se incomodada e ao mesmo tempo surpresa com a reação da criança, no entanto, relata que a mudança é sempre difícil para ele.
Dois aspectos podem também ser levantados com a questão do atendimento individual estar se configurando como ameaçador. Primeiramente pode-se pensar que ficar sozinho com a terapeuta equivale a ficar sozinho com a mãe, o que reativa suas fantasias inconscientes de desejos edípicos. E além disso, a insistência de Pedro pelo atendimento de grupo nos sugere a capacidade do mesmo em desenvolver laço social, uma vez que se apega aos coleguinhas. Referindo-se à neurose, Freud (1917) nos esclarece: “As fantasias possuem realidade psíquica, em contraste com a realidade material, e gradualmente aprendemos a entender que, no mundo das neuroses, a realidade psíquica é a realidade decisiva”.
O que se observa é que Pedro realmente se vê confrontado com o Ideal do Eu, que inclui a figura do seu avô, em especial, mas também de todos aqueles que depositam expectativas na criança. Mas, por outro lado, paciente demonstra estar mantendo sua posição de sujeito, muito embora esteja pagando um preço muito alto. Ser sujeito aqui equivale a ser “doido” na família.
Podemos pensar que, diante da angústia de castração a criança responde com a inibição e o sintoma. Pedro reconhece as palavras, ou seja, está inserido na linguagem, mas a inibição do pensamento, somada ao sintoma: “Não posso aprender” impedem o deslizamento significante, os processos de metáfora e metonímia, comuns na estrutura neurótica, o que nos levou à dúvida diagnóstica, ao levantamento da possibilidade de uma psicose. Ou seja, da “loucura”, interrogação, feita pelo próprio paciente. Freud (1917), assim define o sintoma:

“(...) os sintomas psíquicos (ou psicogênicos) e de doença psíquica são atos prejudiciais, ou, pelo menos, inúteis à vida da pessoa, que por vez, deles se queixa como sendo indesejados e causadores de desprazer ou sofrimento; podendo resultar em extraordinário empobrecimento da pessoa no que se refere à energia mental que lhe permanece disponível e, com isso, na paralisação da pessoa para todas as tarefas importantes da vida”.

Sabe-se que pensando na saúde da criança espera-se que ela possa fazer sempre “bons encontros”. Bons encontros com o real da castração. No entanto, o presente estudo nos aponta a presença de trauma, sugerindo-nos que a transmissão da castração foi desastrosa. Paciente inclui o corte da castração o tempo todo. Não permanece nem em ato e nem em pensamento em coisa alguma, imprimindo o corte em tudo o que faz. Podemos então pensar que há uma posição de gozo, que insiste em aparecer. O questionamento constante que Pedro faz das horas durante as sessões evidencia seu desejo de permanecer ali apenas um pouco, reproduzindo, sua forma de resposta à castração.[6] Momento, portanto, oportuno ao uso do tempo lógico, favorecendo ao paciente se haver com o seu modo de gozo, para daí extrairmos seu desejo. Segundo Freud (1917):

 “(...) as experiências infantis exigem uma consideração especial. Elas determinam as mais importantes conseqüências, porque ocorrem numa época de desenvolvimento incompleto e, por essa mesma razão, são capazes de ter efeitos traumáticos”.

A neurose da criança é uma construção, algo que se evidencia como resposta à transmissão da castração. As fantasias inconscientes invadem o “eu” fazendo com que se renuncie, pela via da inibição, a algumas funções. Freud (1976), assinala que algumas inibições representam o abandono de uma função, porque sua prática produziria ansiedade. Se pudermos tomar o prejuízo das funções executivas de Pedro como uma inibição, teremos mais um argumento a favor da neurose. Para Freud (1926), a inibição é a restrição normal de uma função.
Aspecto essencial no atendimento à criança é a questão do brincar porque é um espaço no qual se cria um mundo de fantasias, através do qual expressa-se a sua realidade interna. A clínica se constitui a partir do discurso infantil que se faz acompanhar pelo ato do brincar. Porém, fabulações ideativas, muito presentes, neste contexto, podem dificultar o entendimento da verdadeira relação que a criança mantém com o que ela diz, ou seja, se é capaz de perceber a separação entre o mundo externo e a sua realidade psíquica, ou não. Esta é uma descoberta fundamental para se firmar um diagnóstico. Freud (1924), nos esclarece: “(...) a neurose não repudia a realidade, apenas a ignora; a psicose a repudia e tenta substituí-la”.
 Segundo WINNICOTT, citado por GEISSMANN (1993:P.325):
“O que distingue de uma atividade lúdica normal é a ausência de um começo e fim no brinquedo, a importância do controle mágico, a ausência da organização do material do brinquedo segundo um esquema, seja qual for, e o caráter incansável que a criança revela nessa atividade”.

No presente caso, observa-se que Pedro mantém, no ato do brincar, pouca espontaneidade e envolvimento. Mantém um discurso de grandeza e apego aos poderes dos super-heróis. Mas se formos observar, atentamente, os heróis escolhidos, veremos a presença de posições não tão grandiosas, como é o caso do Shrek, que segundo Pedro estava na lama. (Paciente em uma das sessões escreve: “Shrek tava lama”).
Questionado em seu discurso de grandeza, paciente se constrange, mas na sessão seguinte evidencia ter sido tocado, de algum modo, e traz já no início do atendimento uma resposta ao questionamento da terapeuta: “O que você não tem?”, Relatou que não tem uma profissão. Sendo então pontuado para a criança, a diferença desta para o mundo dos adultos.
Além da função de simbolização ou representação que o brincar oferece à criança, visto que, existe uma necessidade de elaboração mental das experiências vividas, podemos dizer que algo da ordem do desejo imprime-se ao brincar infantil. Sendo o sujeito psicótico excluído do processo que funda a lei e produz o desejo, podemos pensar que o discurso do sujeito psicótico não é dele próprio, isto é, ele mesmo não tem possibilidade de colocar-se na posição de sujeito do seu discurso. Como conseqüência, tal sujeito não poderá de forma alguma assumir que existe incoerência ou contradição em seu discurso, porque somente a passagem pelo recalque, próprio dos neuróticos, o permitiria fazer.
A ambivalência, fenômeno psicopatológico que pode apresentar-se nos quadros psicóticos, ilustra perfeitamente a contradição do discurso psicótico, sem que o sujeito possa reconhecê-la.
Posteriormente à ameaça do corte entre a criança e os demais do grupo (pela tentativa de retorno para o atendimento individual), houve um apaziguamento do paciente, sendo possível perceber, inclusive, maior espontaneidade na sessão. Pedro brinca com uma boneca, relata que está grávida, mas que fumou muito durante toda a gravidez, inclusive na hora do parto. Encena o filho nascendo e verbaliza que este nasceu morto. Repete a cena, várias vezes, até o “final feliz” (sic), quando a criança sobrevive. Questionado se a mãe queria ter a criança, paciente relata que sim.
Em seguida repete a estória através de um desenho. Desenha a mulher grávida, sangue e o filho (Relata que a mulher estava grávida, saiu sangue e o filho morreu. Em seguida relata que o menino nasceu). Questionado sobre o desenho, relata não ser nada (parecendo não querer falar à respeito) e desenha um cometa e uma bola. Questionado sobre a relação entre os desenhos, responde que o menino chutou a bola no telhado e que lá no céu havia um cometa. Sendo que tal relação aparenta ter sido realizada devido à sugestão da terapeuta. A negação da criança em falar mais sobre o assunto nos aponta a posição neurótica de nada querer saber sobre as questões referentes ao desejo, uma vez que se encontram sob a barra do recalque, no entanto, retornam através das fantasias inconscientes. E a transferência aparece sob a forma de resistência, a partir dos questionamentos constantes sobre a terapeuta.
A sessão descrita pode nos conduzir a pensar que há capacidade da criança em simbolizar. Há presença da divisão do sujeito, não ficando claro ainda qual a relação que Pedro estabelece entre o dito, que vem do campo do Outro, através do significante “Doido”, que o determina e o seu dizer, uma vez que censura suas produções.
Interessante também observar que houve considerável redução de falas repetitivas, movimentos, aparentemente sem propósito e do comportamento disperso (que nos chamava a atenção). Paciente demonstrou nas últimas sessões maior capacidade para interagir com outras crianças e menor preocupação com o término da sessão. Tais aspectos podendo ser indicativos de que a criança possui habilidades, talvez inibidas.
No caso de Pedro existiam elementos que nos apontavam para a hipótese de uma psicose uma vez que há grande prejuízo na capacidade de subjetivação e seu discurso parecia guardar grande influência do discurso do Outro (Outro Mídia, Outro avô), sugerindo que paciente não se apropriava do seu dizer. Mas, o que pôde se observar com o decorrer dos atendimentos foi uma confusão entre o dito e o dizer, ou seja, entre àquilo que vêm do campo do Outro e aquilo que pertence ao sujeito.  Além disso, a evolução do tratamento teve efeitos no comportamento de Pedro que aliados à redução dos sintomas, observados em alguns momentos, nos sugere a presença real de inibição, o que é comum na estrutura neurótica.
 Nesse caso, a clínica se configura abrindo possibilidade ao paciente de deslocar seus sintomas, encontrando formas mais sadias, que produzam menos limitações à sua vida. A posição do sujeito frente ao modo de satisfação pulsional (posição do sujeito frente ao gozo do Outro) nos oferta pistas para o estabelecimento de um diagnóstico que vai além da estrutura clínica para atingir o tipo clínico.
A cena do nascimento proposta pela criança através do lúdico nos aponta o encontro de Pedro com o real do parto. Paciente repete a cena traumática e nos aponta sua divisão questionando se está vivo ou morto no desejo do Outro. Ao reencontrar-se com a castração, através da brincadeira, ressignifica a experiência, no entanto, relança seu desejo (através do “final feliz”, no qual a criança sobrevive). O que significa que, em detrimento da suposta ausência de desejo dessa mãe, ele se relança, ele insiste em sobreviver, enquanto um sujeito.
A escuta desse pequeno sujeito nos permitiu, portanto, concluirmos pela estrutura neurótica. E além disso, avançarmos para o tipo clínico que, no presente caso, nos aponta para a neurose obsessiva. Interessante que Freud (1917) refere-se a ela como uma doença louca:

“(...) os impulsos, dos quais o paciente se apercebe em si próprio, também podem causar uma impressão de puerilidade e falta de sentido; via de regra, porém, têm um conteúdo da mais assustadora categoria, tentando-o, por exemplo, a cometer graves crimes, de modo que não só os rechaça como alheios a si, mas deles foge com horror e se resguarda de executa-los recorrendo a proibições, renúncias e restrições em sua liberdade”.

Chegando ao diagnóstico abre-se a investigação no sentido de quais são as possibilidades desse sujeito a serem trabalhadas na análise. Segundo Freud (1917), existe uma coisa apenas que se pode fazer:

“(...) realizar deslocamentos, trocas, pode substituir uma idéia absurda por outra um pouco mais atenuada, em vez de um cerimonial pode realizar um outro... a situação inteira termina em um grau sempre crescente de indecisão, perda da energia e restrição da liberdade. Ao mesmo tempo, o neurótico obsessivo inicia seus empreendimentos com uma disposição de grande energia, freqüentemente é muito voluntarioso e, via de regra, tem dotes intelectuais acima da média. Geralmente atingiu um nível de desenvolvimento ético satisfatoriamente elevado; mostra-se superconsciencioso, e tem uma correção fora do comum em seu comportamento”.

Nesse sentido, fundamental ao analista é a tentativa de exploração da habilidade de ressignificar suas experiências, tentando revê-las, ou seja, buscando deslocar seus sintomas para formas menos incapacitantes à vida do sujeito. Pedro evidencia possuir tal capacidade ao relançar seu desejo de manter-se na posição de sujeito, escapando da alienação, que vêm lhe sendo imposta. Os rituais obsessivos correspondem às fantasias, que podem, no entanto, ser abordadas através da interpretação.
Abre-se, com isso, a importância de constante estudo, visando contribuir à caminhada do analisante...


 

 

 

 










REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


CIRINO, Oscar. Psicanálise e Psiquiatria com Crianças: Desenvolvimento ou Estrutura. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. 143p.
FERREIRA, Tânia. A Escrita da Clínica: Psicanálise com Crianças. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. As Estruturas Clínicas. P. 47- 84.
----------------------- A Escrita da Clínica: Psicanálise com Crianças. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. O Brincar e sua Função na Estrutura. P.85-99.
FREUD, Sigmund. Conferências Introdutórias sobre Psicanálise- Parte III (1916-1917). Rio de Janeiro: Imago, 1917. P.265-279: O Sentido dos Sintomas (Edição Standart Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, 16)
----------------------. Conferências Introdutórias sobre Psicanálise- Parte III (1916-1917). Rio de Janeiro: Imago, 1917. P.361-378: Os Caminhos da Formação dos Sintomas (Edição Standart Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, 16)
----------------------. O Ego e o Id (1923-1925). Rio de Janeiro: Imago, 1923. P.187-193: Neurose e Psicose (Edição Standart Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, 19)
-----------------------. O Ego e o Id (1923-1925). Rio de Janeiro: Imago, 1924. P.229-234: A Perda da Realidade na Neurose e na Psicose (Edição Standart Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, 19)
----------------------. Um Estudo Autobiográfico; Inibição, Sintoma e Ansiedade; A Questão da Análise Leiga e Outros Trabalhos (1925-1926). Rio de Janeiro: Imago, 1936. P.81-99: Inibições, Sintomas e Ansiedade (Edição Standart Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, 20)

GEISSMANN, Pierre & Claudine. A Criança e sua Psicose. Trad. José de Souza e Melo Werneck. São Paulo: Casa do Psicólogo. 1993. Os Médicos, os Pais, a Sociedade podem evitar a Psicose da Criança?. P.317-333.
KAPLAN & SADOC. Tratado de Psiquiatria. Porto Alegre: Artmed, 1999. Cap. 33 Psiquiatria Infantil. P.2345-2355.
--------------------------- Tratado de Psiquiatria. Porto Alegre: Artmed, 1999. Cap. 34 Exame Psiquiátrico da Criança e do Adolescente. P.2363-2399.
QUINET, Antônio. As 4+1 Condições da Análise. Rio de Janeiro: Jze Editora, 1991. Funções das Entrevistas Preliminares. P.17-38.
VIDAL, Maria Cristina Vecino. Direção da Cura- Psicanálise com Criança e Adolescente. Revista da Letra Freudiana. Rio de Janeiro. Ano X-  Nº 9. Questões sobre o Brincar. P. 43-49.




[1] Artigo apresentado à Pós-Graduação em Psicologia Médica pela UFMG/ 2º Semestre de 2005.
[2] Psicóloga pelo Unicentro Newton Paiva, Pós-graduanda em Psicologia Médica.
[3] Dado a suspeita de gravidade do comprometimento psicomotor.
[4] Atualmente estamos buscando tal contato.
[5] Neste momento, não foi percebida a dificuldade em sustentar sua atenção no presente estímulo.
[6] Paciente repete a tentativa constante do corte quando solicita interromper a sessão.