DA RELAÇÃO SEXUAL
QUE NÃO EXISTE À CONSTRUÇÃO DO AMOR
Renata Craviée F.
Mendonça
Questão à qual gostaria de me dedicar
nesta escrita refere-se ao campo da relação amorosa, isto é, relação que
estabelecemos com o outro, na tentativa de fazer alguma suplência possível da
ausência da relação sexual, que podemos traduzir como a falta da
complementariedade desejada entre os parceiros sexuais. Se nas histórias de
amor retratadas nos livros, filmes, teatro entre outros há alguma tentativa de
expressar tais ideais aponto, por outro lado, a realidade clínica à qual venho
escutando o desencontro inevitavelmente presente na relação entre os seres
falantes.
É neste contexto da escuta clínica que
tentarei trazer alguns recortes de um dado caso clínico visando favorecer
alguma compreensão acerca do campo do amor e do gozo. Segundo Henrique Lorrand
é por uma via mortífera que o sujeito se insere no laço social, sendo assim,
não se pode desconsiderar que o amor, enquanto laço social possível incluirá
também a necessidade de se pensar na via de gozo que enlaça dois sujeitos.
Para a compreensão de tais questões retomo
a teoria das parcerias, ou melhor, a concepção de “parceiro-sintoma”, tratada
por Miller a partir do ensino lacaniano. No entanto, antes mesmo de nos
voltarmos para o “parceiro-sintoma”, propriamente dito, interessante pensarmos
na outras parcerias trabalhadas pelos referidos autores.
A primeira parceria, a imaginária aponta a
primazia da imagem do outro enquanto elemento formador do Eu. Esta ocorre
devido ao total desamparo e dependência do bebê em sua relação com o outro,
posição comumente ocupada pela mãe ou quem realiza a função do cuidado. Deste
modo, já desde o início podemos pensar sobre a importância do outro para a
constituição do eu, o que nos revela a importância das identificações, que se
apresentam no contexto analítico.
Neste sentido, o modo de enlaçamento de
dois sujeitos pela via amorosa não deixa de apresentar os elementos resquícios
das primeiras relações de amor destes mesmos sujeitos, deste modo, segue o
seguinte fragmento clínico:
“Paciente Ana, 24
anos diz achar que possui problema para relacionar. Conta sobre dois
relacionamentos e diz que escuta destes que é “travada.” Questiono como seria
isso, ela diz que os caras queixam de que ela não é carinhosa, tem dificuldade
em ser carinhosa, atenciosa. Diz que quando escuta destes que é travada, fica
mais travada ainda e daí fica com preguiça.” Relata que o relacionamento
anterior não deu certo pelos mesmos motivos. Relata sobre uma dificuldade com a
mãe, diz não se dar bem com ela, diz que ela não gosta do jeito que a mãe fala
com ela e nem a mãe gosta do jeito dela de falar, diz que acha que a mãe não
gosta dela, ou melhor, sabe que gosta mas..... diz achar que também não está
mais em idade de ficar cobrando a atenção da mãe... relata que a mãe se dá melhor
com sua irmã e que sente isso. Diz que acha que a mãe só foi lhe conhecer
melhor depois dos seus sete anos, porque antes disso ela ficava com o seu pai,
porque ela trabalhava o dia todo, quase não encontrava com sua mãe”.
Este caso clínico demonstra os efeitos da
vida amorosa inicial, ou seja, deste sujeito com seu objeto de amor materno
trazendo incidências para a vida amorosa posterior e a possibilidade da análise
enquanto meio de questionamento da realidade vivida em seus impasses e
desencontros.
“O amor não vai sem o dizer” (LACAN, 1974),
tal formulação nos direciona para a segunda parceria, que é a parceria
simbólica realizada através do uso do significante como via de suplência da
dimensão da falta. O sujeito aqui se dirige a um outro na tentativa de
reconhecimento. Algo que aparece na realidade clínica pela importância do
sujeito possuir esse lugar, o lugar do reconhecimento, no campo do outro.
A terceira parceria
refere-se a parceria do desejo, que pode ser representada pela fórmula da fantasia
(S a). O outro aqui é o lugar, no
qual, o sujeito busca objetos para o seu complemento. O Sujeito não estabelece
uma relação direta com o outro a não ser por meio dos objetos.
A quarta parceria, refere-se a parceria
sintomática, à qual havíamos já mencionado. Trata-se do endereçamento do
sujeito a um outro desigual, ser sexuado, do outro sexo na busca de um
complemento. Esta via se dá pelos objetos pulsionais, primitivos localizados na
relação entre dois sujeitos. Acompanhando esta direção do ensino lacaniano
torna-se claro que a dimensão do sujeito enquanto “falta-a-ser” não é mais possível de ser concebida. Deste modo,
passamos a conceber a dimensão do “falasser”,
isto é, do sujeito mais o seu ser, sua fala, seu corpo, sua vida e deste modo
percebemos a dimensão do gozo implicada em sua teoria. Isto quer dizer que por
trás do Ser há um gozo do corpo, do vivendi, da vida. Seguindo a orientação
psicanalítica torna-se claro a complexidade que envolve a investigação
analítica para o entendimentos das questões amorosas.
Lacan em seu Seminário “A Angústia”
(1962-1963), enuncia que a constituição do sujeito se faz em sua relação com o
desejo do Outro e que o desejo humano é função do desejo do Outro. O autor
demonstra que a angústia está ligada a eu não saber que objeto “a” sou para o desejo do Outro. As funções oral, anal, função da voz e do
olhar desempenham um papel privilegiado na constituição subjetiva daquilo que
qualificamos como desejo oral, anal, escópico e auditivo (voz), podendo todos
estes elementos ocupar o lugar de objeto “a”. Sobre isso, interessante a seguinte
citação:
“(...) trata-se de
objeto escolhido por sua qualidade de ser especialmente cedível, por ser
originalmente um objeto solto, e se trata de um sujeito a ser constituído em
sua função de ser representado por “a”, função esta que continuará essencial
até o fim”. (LACAN, 1963, p. 357)
Em relação
a parceria do desejo,
representada pela fórmula
da fantasia:
(S a) que refere-se a possibilidade do sujeito
inscrever-se enquanto um sujeito desejante, quando possuiu um outro do desejo
na relação com ele, trata-se da posição que o sujeito sustenta em relação ao
semelhante. Sobre a questão da posição ocupada na relação com o outro,
interessante o seguinte recorte do mesmo caso clínico, citado anteriormente:
“Ana relata que em sua família o contato físico, o
diálogo, a expressão do gostar não ocorrem, que sua mãe é igual a sua avó....Sobre
o relacionamento atual, ela relata: As vezes, ele me irrita, daí eu me pego
desimpolgando, desinvestindo, diz ficar com medo de retornar como era nos
outros relacionamentos. Relata que no relacionamento anterior foi até o limite
do que ele aguentava, que viveu um namorico, diz perceber que chega até um
limite e que daí “trava”. Relata que em dois anos deviam ter transado umas duas
vezes, relata saber que é para ser bom para os dois, mas que percebe que é como
se o homem fosse somente exercer sua força, seu poder sobre ela e que daí não
aproveita, só espera acabar....” Relata saber que sua dificuldade tem a ver com
o fato de não ter recebido afeto, carinho de sua mãe, mas diz querer resolver o
seu problema. Sobre o relacionamento atual relata ter dito ao companheiro
querer apenas mais um tempinho para ser mais firme no relacionamento.”
Pensar a clínica, a posição ocupada pelo
sujeito na relação com o outro, que pode ser capturada a partir do discurso
sustentado por este, nos pede a interrogação acerca do consentimento que o
sujeito faz ou não da dimensão da falta, isto quer dizer que há uma implicação,
uma participação do sujeito em seu contexto edípico. O consentimento do sujeito à dimensão da
falta e a busca do campo do Outro através da tentativa de se fazer laço pede
alguma renúncia, algo é perdido nessa tentativa de encontro com o campo do
outro. Há, portanto, um preço a ser pago pela dimensão do desejo no campo da
neurose.
No entanto, importante lembrar que o
diagnóstico estrutural, deve ser buscado conforme o modo como o sujeito lida
com a falta inscrita na subjetividade, falta que condiciona a forma de cada um
se haver com o sexo, o desejo, a lei, a angústia e a morte. É na construção do
caso clínico, a partir de um saber sobre a subjetividade particular de cada
paciente que a psicanálise permite elaborar, que um diagnóstico aparecerá como
conclusão do processo de investigação.
A quarta parceria, elucidada por Miller, o
“parceiro-sintoma”, também pode ser chamada de parceiro libidinal ou parceiro
de gozo e traduz de modo ainda mais interessante o que ocorre nas relações. Esta parceria inclui, portanto, a dimensão do gozo,
do sofrimento, pela via do sintoma mas também a dimensão da fantasia. Tal
questão demonstra toda a sua importância a partir do tratamento analítico, uma
vez que, é fundamental se trabalhar o sintoma do sujeito, tentando extrair
deste a via do desejo, o que se dá pela construção da fantasia. É um convite ao
sujeito pela via da fantasia ao abandono do sofrimento em busca do desejo. Isto
quer dizer que o tratamento analítico busca resgatar o sujeito desejante,
favorecendo as suas escolhas e deste modo abandonando a posição de objeto, que
muito comumente sustenta na relação com o outro e com a vida.
Uma via diferente na relação entre dois
sujeitos, que não pela via do objeto é a possibilidade da construção do amor. No
entanto, o aforisma psicanalítico:“ Não há relação sexual” revela a não
proporcionalidade entre o homem e a mulher, sendo possível apenas sabermos
sobre o nosso próprio gozo, nada sendo possível saber acerca do gozo do outro,
pois este é vivido no real do corpo. Neste sentido, entre um sujeito e o outro
estão os objetos pulsionais. Somente a dimensão do amor através da demanda de
amor endereçada ao Outro sexo permite a busca do Ser do Outro, prescindindo do
objeto. O amor deixa fora o corpo, a dimensão do objeto, via de gozo, mas se
aferra às palavras, ao significante.
Interessante que o presente caso clínico,
apresentado em alguns recortes, nos oferece uma ilustração acerca da concepção
do parceiro-sintoma. Pode-se perceber que o parceiro se funda sobre a relação
no nível do gozo, não se fundando sobre
a proporção significante, no nível sexual, mas sim como um meio de gozo. A
Paciente Ana ocupa uma posição ativa, de comando na relação, no entanto, relata
como insuportável, o lugar de objeto do parceiro ao pensar na possibilidade da
relação sexual, que viveu com outro companheiro, de modo traumático.
O parceiro-sintoma retrata o modo de gozo
do saber inconsciente, da articulação significante e do investimento libidinal,
modo de gozar do corpo do Outro. No entanto, o caso clínico em questão parece
revelar o gozo deste sujeito em não gozar da relação. O osso de uma cura
analítica é o sintoma, esse ponto endurecido, modo de gozar de cada sujeito e
que é preciso aprender “a se fazer com...”
O amor traz uma dimensão inédita para os
seres falantes, uma vez que, somente existe por uma via de construção, de um esforço
em dar um nome próprio para o objeto “a”, enquanto causa de desejo e também
meio de gozo. Isto fica mais claro quando a mulher se dirige ao parceiro pela
demanda de amor, infinita demanda, o que retorna para ela enquanto devastação,
outro nome do amor sobre a vertente do feminino.
O caso clínico em questão evidencia o
movimento deste sujeito de produção de algum sentido a sua feminilidade apoiada
na vertente fálica. No entanto, sempre sobrará um resto, extremamente
particular e peculiar ao ser feminino de uma construção que se aproxima do
inefável, enigmático, misterioso, relacionados ao gozo da mulher.
No que se refere a relação entre desejo e
gozo pela vertente do amor, interessante a seguinte citação: “É pelo desejo e
pelo gozo que a existência humana assume o seu caráter de drama. Sem o desejo e
sem o gozo, as noções de vida e morte não teriam nenhum sentido”. (VALAS, 2001,
P. 08)
Interessante a questão colocada por
Drummond (2006, P.11):
“O que os
psicanalistas lacanianos tem a dizer sobre as parcerias contemporâneas, sobre
as novas formas de enlaçamento familiar e, sobretudo, sobre o desamor, a
solidão e as dificuldades cada vez mais frequentes de apostar no amor como laço
com o outro?”
Para
responder a esta pergunta a autora em “Uma Política do Amor (2006, p.11)”
recorre à conferência de Miller no último congresso da AMP, em Comandatuba
(Miller, 2005, p.18), na qual, afirmou: “(...)
É preciso o amor para fazer o inconsciente existir como saber”. Diz ainda que a questão do amor toma
uma nova dimensão no ensino de Lacan, a partir de seu “Seminário XX”, no qual
assim aparece: “(...) Como aquilo que poderia fazer mediação entre os
um-sozinho”. Para estabelecer uma
relação entre os significantes que se encontram disjuntos, dispersos, a
psicanálise demanda que se ame o inconsciente, visando fazer existir não a
relação sexual, mas a relação simbólica entre os significantes.
Interessante
pensarmos que, se por um lado, a escolha ou encontro do objeto amoroso se dá
pela via de ser um reencontro, no qual, as primeiras experiências sexuais e o
contexto edipiano guardam relevante importância, por outro lado, a aposta que
se faz no amor, apesar de todos os seus desencontros, no que diz respeito ao
aspecto da fantasia se faz possível graças às trocas simbólicas, inerentes ao
registro significante na relação de um casal. O que significa dizer que não há
uma aposta na completude ou complementaridade entre os sexos, mas há a
possibilidade de mediação entre significantes, regulando o gozo de cada um,
permitindo e favorecendo assim a relação amorosa.
Segundo
Drummond (2006, p.12) houve em nosso mundo Contemporâneo um intenso
desregramento do gozo e neste sentido uma grande desordem no campo amoroso.
Diante de um mundo globalizado, utilitarista e universalizante, que apaga os
valores de dignidade e honra, introduziu-se uma nova economia libidinal em que
a lógica e as condições do amor se alteraram. Segundo a autora cada vez mais, o
sujeito encontra soluções que driblam a castração, soluções nas quais a
alteridade é reduzida a pequenas diferenças narcísicas, das quais, Freud nos
alertou para as conseqüências nefastas, como a intensa auto-referência corporal
e a mercantilização das relações.
Interessante
a citação da autora:
“Encontramos sujeitos
solitários, devotados ao consumo de objetos ou ao culto do individualismo
consumista, que trouxe consigo uma multiplicação dos chamados monossintomas:
mal-estares do corpo e do humor, violência e transtornos de conduta, que nos
falam de um sujeito orientado pelo empuxo ao gozo.” (DRUMMOND, 2006, p. 12)
Diante
de tais questões que cotidianamente se apresentam na clínica demonstrando todo
o sofrimento que envolve a relação do sujeito com o outro, na tentativa de
realização do laço social, pela via do amor importante ressaltarmos o lugar
ocupado pelo tratamento psicanalítico na escuta de tais impasses:
“Defendemos que,
pela via do encontro com o discurso do analista e do amor de transferência, é
possível promover a articulação do campo do sujeito com o campo do Outro,
princípio de todo laço social, e permitir que o sujeito construa uma nova saída
para lidar com o mal-estar, implicando-se em sua queixa e no sofrimento que
relata”. (ESPINOZA, 2009, P. 149)
O
sujeito que chega à clínica não ignora o mal-estar do sintoma como resposta
desprazerosa, no entanto, nada quer saber sobre a verdade que responde ao
sintoma. A aposta da psicanálise é a abertura do sujeito à responsabilização por
seu sofrimento, ou seja, que o sujeito possa se questionar sobre a sua
participação e implicação na desordem da qual se queixa e assim possa construir
novas saídas para o seu mal-estar. A Psicanálise não trabalha a partir da
lógica contemporânea de tamponamento ou apaziguamento da dor de existir. Em
lugar aos objetos de consumo ou de promessas milagrosas de auto-controle e
felicidade, um psicanalista oferece sua escuta. É a partir do acolhimento do
sintoma que é possível se operar.
É
pela via da formalização dos discursos que Lacan aborda as fontes de mal-estar
incontornáveis no caminho do homem à felicidade. Parte do primado do falo,
postulado por Freud e chama a atenção para o seu correlato da não-relação entre
os sexos.
Neste
sentido, o discurso do psicanalista, inaugurado por Freud e formalizado por
Lacan (1969-1970) representa uma nova forma de laço social, sendo o avesso do
discurso do mestre. A oferta da escuta ocorreu inicialmente pela suposição de
que o material da fala contém um saber. Segundo Freud e Lacan, a via para o
tratamento analítico é o amor de transferência, pois permite ao sujeito a
construção de um novo modo de relação com o seu sofrimento, a partir do amor
que se dirige ao saber.
Na
tentativa de alguma conclusão possível, interessante a reflexão acerca do amor,
levando-se em conta o aspecto de gozo, ou modo de gozo de dois sujeitos que se
enlaçam, sobretudo pelo viés do significante, da palavra. A teorização acerca
das parcerias, sobretudo a parceria sintomática evidencia que o modo de gozo de
cada sujeito encontra no Outro da relação uma via possível de satisfação, ainda
que, muitas vezes, uma satisfação mortífera ou devastadora.
A
Psicanálise possui, portanto, uma nobre função ao ofertar a escuta e promover
algum distanciamento do sujeito em relação ao seu gozo, pela via da palavra,
via de acesso ao inconsciente e ao desejo e a toda uma possibilidade de
tratamento, isto é, favorecimento de novas saídas do sujeito para o seu
mal-estar inevitavelmente presente na relação com o outro e com a vida.
Segundo
Espinoza, Lacan enfatiza, ao longo de sua obra, a importância do fenômeno do
amor na experiência de análise. Afirma que no tratamento analítico, nós nos
ocupamos das coisas do amor e que nesse contexto o amor se faz instrumento de
produção de um saber sobre a verdade. E segundo, a autora é por essa ilusão que
o sujeito se vincula ao Outro, ao objeto amado.
Lacan
em seu Seminário XX (1972-1973) afirma: “Aquele a quem eu suponho um saber, eu
o amo”. (P. 91) No entanto, conceitua os sujeitos como dispersos, disjuntos,
sem ligação uns com os outros. O que se observa no mundo contemporâneo é que o
sujeito não remete uma pergunta ao Outro, cujo enlaçamento encontra-se
fragilizado. Assim, o espaço da oferta da escuta permite ao sujeito falar e ao
analista o estímulo a algum enlaçamento possível.
BIBLIOGRAFIA:
DRUMMOND, Cristina. Uma
Política do Amor. Curinga, Escola
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ESPINOZA & BESSET. Sobre Laços, Amor e Discursos. Psicologia em Revista, Vol. 15, Nº02,
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QUINET,
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